Sobre o Palco
Não quero um teatro sujo, invadido, tumultuado,
Quero um palco em casa!
Onde eu possa andar descalço sobre ele,
Respirar fundo! Sem tragar resíduos de uma sociedade vendada, vendida, e perdida no seu próprio caminhar.
Quero um lar para meu palco,
Pequeno,
De terra batida,
Com cheiro de café de bule,
Com cheiro de mãe,
Cheiro de erva cidreira, melancia, vinho, candura.
Não quero meu palco na tela,
No outdoor,
Com lâmpadas fosforescentes,
Perdidos entre cartazes de magia e propaganda de cigarro…
Não quero meu palco invadido pela luxuria,
Pelo desejo único de brilho instantâneo sem mérito algum.
Quero que tirem os sapatos para subirem no meu palco,
Feito neto ao entrar na casa encerada da avó…
Não quero enlatados,
Conservantes,
Sintéticos alimentando meus sonhos.
Quero gosto de terra na verdura recém tirada do ventre da terra,
Quero trepar num pé de laranjeira para regular meus refletores!
Quero gente me olhando nos olhos…
Quero gente…
Quero olhos…
Quero um lar…
Não quero o perfume,
Desejo o suor na face, no corpo, na alma da platéia.
E que ela não esteja ali por mim, mas por si mesma e pelo sagrado.
Não quero o aplauso,
Não quero nada, me entrego apenas,
Só desejo o encontro,
Poético, vivo, teatral…
E que ao fim do dia, e no fim,
Os meus sapatos tenham goteiras.
E que o palco, me abrace como um filho no seu colo secular!
Diga-me, enquanto adormeço, bem baixinho…
Esta é a tua casa Fábio…