Polêmica: Alergia e Sujeira nos teatros de Goiânia
O Facebook foi invadido por comentários e discussões acaloradas sobre a higiene e o estado de conservação dos teatros da capital.
Carol Malaguth, que segundo informações do seu próprio perfil na rede social é atriz da Cia de Teatro Sala 3, publicou fotos suas com o que ela mesma afirma ser um quadro avançado de alergia, provocada pela falta de higiene no Teatro Rio Vermelho do Centro de Convenções de Goiânia.
Fotos publicada no Fabebook da atriz Carol Malaguth
“Fui a um congresso no Centro de Convenções durante o carnaval. E senti que o ar condicionado do teatro Rio Vermelho estava sujo, pois irritou meus olhos. Na segunda, dia 20/02, sai do teatro no meio da palestra com um crise de asma tão forte que fui para o hospital com o SAMU. Há dois dias, porque minha imunidade ficou fragilizada, tive essa reação. Quase tive choque anafilático, tive princípio de fechamento de glote. Os médicos não sabem o que foi, mas sabem que foi minha reação à sujeira do teatro que desencadeou tudo. Havia quase 1 anos que eu estava sem sintomas de alergia, por causa de um tratamento homeopático. E agora isso… Não me lembro de ter tido algo tão forte assim.” – publicou a atriz no mural do seu Facebook.
Pronto, estava instalada a polêmica. O assunto repercute entre os artistas e público do teatro em Goiás. Entre outros teatros são citados o Teatro da UFG, o Martim Cererê e o Teatro de Bolso Cici Pinheiro. “Cansei de quase morrer de alergia por causa da sujeira na Casa das Artes tbm”, comentaram sobre a situação da Casa das Artes, onde fica o Teatro de Bolso Cici Pinheiro. Outro usuário da rede social responde: ”Pois é, Leo, tá ai outro lugar medonho! Lá é abandonado mesmo. O pior são esses teatro, onde a gente paga caro por ingressos ou inscrições de congresso e ganha de brinde uma alergia monumental”.
Não é a primeira vez que recebemos informações sobre as condições de higiene do centro cultural Casa das Artes. No mês passado o site teatrogoiano.com.br recebeu vários e-mails relatando a sujeira do espaço durante a realização das Oficinas de Férias de Circo e Teatro oferecidos no local. Alunos das oficinas relataram que “voltavam imundos para casa depois das aulas, realizadas em salas sujas e mal conservadas.”
A verdade é que a situação dos espaços públicos destinados ao teatro em Goiânia é preocupante. Alunos de teatro de Rio Verde, interior do estado, nos enviaram e-mails comentando a decepcionante visita ao Centro Cultural Martim Cererê na última terça-feira, dia 28 de fevereiro. Os alunos dizem ter “ficados surpresos com a beleza e o abandono daquele espaço que foi referência durantes décadas para o teatro goiano.” A situação de abandono do Martim Cererê não é novidade para ninguém. O Centro Cultural vem passando por uma sequencia de administrações desastradas que não conseguem resolver os seus muitos problemas.
Sobre a polêmica levantada pela a atriz Carol Malaguth e sua alergia, a situação parece realmente preocupante. Em outro ponto dos comentários no mural do seu facebook outro usuário diz: “Não quero agora ficar com medo de ir ao teatro e sair de lá para o hospital. Quero ter a certeza de que vou assistir a um congresso ou um espetáculo e vou voltar para casa com boas lembranças somente.”
Isto, aliás, é o que todo o público e os artistas goianos esperam. Bem como esperamos que os administradores destes espaços venham a público falar sobre as denúncias e cuidem melhor destes palcos de arte, cultura e conhecimento.
Este é um espaço aberto para todos.
Nota publicada pela atriz no seu facebook
Estou fazendo essa nota para que fique mais claro o que aconteceu e porque a sujeira de um teatro é provavelmente a responsável por desencadear em mim uma forte crise alérgica.
Pessoas que me conhecem sabem da minha alergia. Pessoas que convivem comigo ultimamente sabem que há quase um ano que não tenho crises, pois iniciei um tratamento homeopático ao qual estava respondendo muito bem.
Fui a um congresso no Centro de Convenções de Goiânia durante o carnaval. E senti que o ar condicionado do teatro Rio Vermelho estava sujo, pois o ar que saia dele irritou meus olhos. Isso foi no primeiro dia que fui ao evento, dia 19/02. Passei por volta de 8h dentro do teatro, com intervalo de almoço. No dia seguinte, na segunda, dia 20/02, após aproximadamente 1:30h dentro do teatro, sai de lá no meio da palestra com um crise de asma tão forte que fui para o pronto-socorro com o SAMU. Nesse dia, a crise se iniciou novamente com irritação nos olhos, só que rapidamente evoluiu para um caso de rinite e começou a comprometer toda a respiração até que entrei em crise de asma com dispneia violenta. A crise forte durou uns 30min até que uma médica que fazia parte do público do congresso conseguiu me tirar dela com uma manipulação de acupuntura. O SAMU chegou e fui ao pronto-socorro da Unimed, ainda com asma, mas um pouco mais branda. Já medicada, me senti melhor, mas a respiração ainda estava comprometida. Passei o restante da segunda-feira em casa.
No dia seguinte, dia 21/02, fui ao congresso e consegui ver a última palestra. Ainda sentia o ar pesado, mas não tive a reação forte mais, só tosses esporádicas. Duas pessoas do congresso me contaram nesse dia, terça-feira, dia 21/02 que também tinham tido reações lá. Uma senhora que estava sentada à minha frente e tossia muito, falou a seguinte frase “eu vim de teimosa, porque ontem já me deu uma crise de bronquite alérgica.” Contou que dormira mal, porque não podia respirar. E que sentia o ar daquele lugar era sujo, também comentou do carpete. Encontrei depois um rapaz, casado com uma moça que trabalhava como voluntária no evento. Contei-lhe meu caso e ele falou que sua esposa não tinha ido trabalhar naquele dia, porque tinha sido acometida de crises de asma, que haviam começado no dia anterior dentro do Centro de Convenções. A suspeita dela também era aquele ambiente e por isso ficara em casa, não voltando ao Centro de Convenções para trabalhar.
Passei a semana com dificuldade respiratória, mesmo tendo usando religiosamente a medicação indicada. Marquei consulta com um alergista para o dia 27/02, mas antes que eu pudesse ir ao médico, tive outra reação alérgica, dessa vez de provável origem alimentar, mas que foi deflagrada por causa da baixa da imunidade causada pelo contato do dia 21/02 com um ambiente extremamente tóxico. Não apresento quadro de alergia alimentar normalmente, somente respiratória. Mas se a imunidade abaixa, qualquer coisa pode agravar o quadro alérgico.
Segundo os médicos, o que provavelmente ocorreu é que fiquei exposta por muito tempo a um agente muito agressivo, que foi o ambiente tóxico no teatro (foram por volta de 10h lá dentro, tirando os intervalos de almoço e lanches). E por isso minha imunidade baixou a ponto de criar uma hipersensibilidade a outros elementos que normalmente eu não teria, como algum alimento. Assim alguma coisa, qualquer coisa, que comi me deu essa reação das fotos (e digo que as fotos estão lindas, pessoalmente está muito pior).
Desde 26/02 à noite, por causa dessa fragilidade gerada no dia 21/02, tive essa reação cutânea. No dia 27 amanheci horrivelmente pintada e quase tive choque anafilático, tive princípio de fechamento de glote. Desde então estou internada para observação em um hospital da cidade.
As pintas estão melhorando com os antialérgicos, mas não respiro normalmente ainda, apesar da medicação. A médica que me atende no hospital hoje pediu exames de raio-x e ainda não me liberou. Eu tenho histórico de alergia, eu sei. Mas o que impressiona nesse caso é que foi muito marcado o momento em que essa crise começou. E ela veio depois de muito tempo sem sintomas de alergia, meses sem eles, quase um ano. Eu estava muito bem nesse sentido. Na mesma semana do evento eu tinha feito atividade física pesada e sai ótima, pronta para outra. Estava respirando muito bem, seguindo com minha vida tranquilamente. Alergia não vem do nada, ela é causada por um agente externo. Sei que minha reação é muito forte em relação à das outras pessoas, mas não saio por ai tendo crises violentas e sento levada de ambulância para todos os lados. Na verdade, nunca tive uma alergia como essa. O que me leva a pensar se algum dia aquele teatro e seu ar-condicionado passaram por higienização.
É terrível sair de sua casa para adoecer em um ambiente que teoricamente deveria te trazer benefícios, com artes, conhecimentos, entretenimento. Nunca mais irei a um teatro tranquilamente como ia antes. Os meus prejuízos são tantos. Financeiro: com medicamentos, que só não foram maiores porque tenho plano de saúde, não poderei ir trabalhar o que vai comprometer a minha renda, não pude assistir às palestras e perdi o dinheiro investido no congresso. Fora a frustração de não poder participar de um evento pelo qual esperei tanto. E mais, não poderei encontrar com meus alunos, e terei que aguentar a frustração de não poder voltar a dar aulas, me preparei tanto para elas. Não posso encontrar com meus amigos, minha família. Não posso fazer minhas atividades normalmente, até mesmo caminhar está difícil. Tudo isso poderia ter sido evitado se eu nunca tivesse pisado naquele teatro tóxico. Ou se administração daquele espaço (e de outros vários por ai) tivesse entendido que o descaso deles traz consequências à saúde pública.
Não cabe a mim, nem aos médicos, provar que lá está irregular no que diz respeito à higiene. Isso cabe aos órgãos responsáveis por essa fiscalização. Mas eu não posso ficar aqui calada fazendo de conta que não foi lá que tudo começou. Tudo indica que a relação entre a falta de higiene do teatro e a minha crise alérgica é de causa e efeito. Então, espero que seja averiguado esse fato e se constatado algum erro, que seja corrigido. Que sirva de alerta para os demais locais fechados de aglomeração humana da cidade (teatros, auditórios, salas de aulas, etc.).
Minha pronta recuperação é o que espero agora.
Carol Malaguth Goiânia, 01/03/2012.